domingo, 22 de abril de 2012




Grécia : E seus Encantos

Povoada pelo imaginário mitológico, e pela influência dos pais da filosofia, a Grécia é um dos maiores berços culturais da Antiguidade, e encanta por sua história e pelas belezas naturais de suas ilhas, perfeitas para uma imersão no tempo e no azul turquesa de suas águas. O grande barato da Grécia está no verão, quando a atmosfera cosmopolita de Atenas dá lugar às ilhas, ao branco ofuscante das casas típicas de Santorini, às baladas épicas de Mykonos, e à singeleza da ilha de Amorgos. É no verão que os gregos e os turistas estrangeiros parecem viver seu estado de graça, em uma saudação ao sol e à natureza.Atenas:Nenhum olhar sobre Atenas parecerá suficiente, se você não compreender ao menos um pouco da complexidade histórica de uma das maiores capitais europeias. Cada uma de suas esquinas se desdobra em um museu a céu aberto - suas estátuas traduzem os rumos tomados pela história e nenhuma delas esconde a beleza involuntária corroída pelo tempo. Na Praça Omonia, o ritmo acelerado do centro antigo não para, enquanto milhares de turistas e guias circulam pelos bairros adjacentes de Monastiraki e Plaka. A Praça Syntagma, sede do Parlamento grego, é hoje o epicentro dos protestos organizados pela população contra os ajustes econômicos advindos da crise. Para nós, viajantes, fica a impressão da tenacidade dos cidadãos gregos, que não se dobram ante a adversidade.
Na base da colina da Acrópole, localiza-se a principal atração da cidade, e uma das maravilhas do mundo: o Parthenon, imponente símbolo da civilização grega, edificado há cerca de 2.500 anos em homenagem à deusa Atena, patrona das artes e da sabedoria, e o maior símbolo da democracia grega.Vista do Monte Licabeto, no bairro central de Kolonaki, em Atenasuma das maiores capitais europeiasA maior parte dos passeios pelo centro histórico de Atenas pode ser feito a pé, e nesse caminho encontra-se, além das ruínas históricas, uma lista de opções de entretenimento e comércio, com livrarias, lojas de grifes famosas, restaurantes e shows. A cultura grega sempre valorizou a comunicação, o encontro, e a representação social por meio das artes. O bairro boêmio de Psiri, antiga área de pequenas fábricas de couro, se vê transformado pela cena festiva underground, repleto de cafés em estilo anos 60, tradicionais tavernas gregas e casas retrô, todos regados a boa música e com vida noturna intensa.
No calor intenso do verão, o café - servido gelado e batido como um frappé - acompanha horas intermináveis de conversas entre os gregos, à espera das embarcações que partem de Pireu, o maior porto do país, localizado a uma hora de Atenas, com destino às Ilhas Cíclades.Magia entre as ilhasAs Ilhas Cíclades são parada obrigatória para quem gosta de agito e glamour, e também para quem prefere privacidade, sombra e água fresca.Na pequena Praia de Agios Pavlos, na Ilha de Amorgos, diversão e paraíso se complementamFoto: Renan RosaNaxos, o portal de ApoloUma gigantesca muralha de pedra sinaliza a entrada em Naxos, a maior ilha das Cíclades. Lugar onde o tempo parece não passar, Naxos permanece associada ao famoso vinho, às azeitonas e ao kytron, bebida à base de folhas de limoeiro. Sua atmosfera nos remete aos vilarejos espanhóis de Andaluzia. Naxos ostenta o Portara que, segundo a mitologia, era um portal que teletransportava o deus Apolo entre Naxos e Delos, ilha de seu nascimento. No centro de Naxos, bazares e bistrôs ficam abertos pela noite adentro, ao sabor do kefalotiri.Seria Santorini a tão procurada Atlântida?Diz a lenda que Santorini teria sido formada geologicamente por uma violenta explosão vulcânica, em 1625 a.C., o que gerou especulações a respeito de possíveis conexões diretas com Atlântida, uma terra de mitos do passado que teria desaparecido, submersa em decorrência de um cataclismo geológico.
É necessário transporte motorizado para chegar às diversas praias da ilha, que são um espetáculo à parte: pedras vulcânicas espalham-se pela orla da Praia de Perissa, e falésias gigantescas perfazem toda a encosta da Praia Vermelha. A ilha difunde a cultura e as tradições gregas entre inúmeras igrejas ortodoxas, vistas por suas marcantes cúpulas azuis. Perder-se entre os labirintos brancos de Fira e Óia - com casas e ladeiras com detalhes primaveris e escadarias construídas sobre penhascos à beira do oceano - parece ser mais um dos caminhos de Santorini, conhecida por ter um dos mais belos crepúsculos do mundo.O prazer efusivo de MykonosModelos, artistas e figuras badaladas elegeram Mykonos como o paraíso das baladas efervescentes, que se estendem pela Chora, o centro cosmopolita que abriga um comércio luxuoso de marcas internacionais.Grande parte da Ilha de Amorgos ainda preserva o cotidiano tradicional em seus vilarejosFoto: Renan RosaAmorgos, o profundo azul de AfroditeBronzeados e exaustos, depois do frenesi de Mykonos, parece razoável procurar a paz em ilhas mais recônditas, camufladas entre as cerca de 3.000 formações insulares da Grécia. Esse lugar tem nome - Amorgos, pequena ilha bem próxima ao litoral turco que, em 1988, serviu como cenário do clássico filme Imensidão Azul, do cineasta francês Luc Besson.
Nesse pedaço marítimo do Éden, grande parte dos turistas é grega. Para eles, Amorgos é uma espécie de segundo lar, por renovar a energia urbana trazida, principalmente, de Atenas e Tessalônica (segunda maior cidade do país), e por reproduzir um ambiente em que natureza, contemplação e romance se complementam. A chegada pelo Porto de Katapola desmitifica esse cenário de paraíso insólito e intocado - comerciantes aproximam-se de cada embarcação que ali aporta, em busca de bons negócios. Em direção a uma de suas diminutas praias, montanhas em tons de bege recortam a visão do mar azul intenso, cercadas por enormes abismos. No caminho para Aegliali, praia que abriga o outro porto da ilha, pequenas casas brancas contrastam com a paisagem rupestre salpicada de moinhos de trigo desativados e por rebanhos de exóticas cabras.
Apesar de calma e mais tradicional, Amorgos tem uma atmosfera culturalmente interessante, com maior ênfase no turismo familiar, diferentemente das ilhas mais badaladas. Alguns lugares, como o café Jazzmin, e o bar Amos, têm uma programação diária para o público jovem, com música ao vivo, bebidas e comidas típicas.
Distante de Aegliali e de Katapola, a estrada sinuosa que leva até a paradisíaca Praia de Mouros, passa pelo Mosteiro de Panagia Hozoviotissa, cravado em uma rocha gigantesca e que impressiona pela localização e beleza da arquitetura bizantina. Mouros é considerada a praia top de Amorgos, e uma das mais lindas do mundo - sinaliza o êxtase máximo em um mergulho por suas águas cristalinas. Não é por menos que Amorgos figura entre os mitos da Antiguidade, por ter abrigado um templo da lendária deusa do amor, Afrodite.

Templo de Afrodite. 


















Lugares mágicos





Corinto, o berço do cinismo


fotografia de Dora Mota
Na antiguidade, Corinto não era a cidade mais rica nem mais culta da Grécia, mas era seguramente a mais popular entre os marinheiros que passavam ali as folgas, nos braços das mil sacerdotisas do templo de Afrodite. No topo de uma montanha, pedindo requintes de alpinismo para o alcançar, as ruínas ainda lá estão. Símbolo da maneira desbragada e pouco temente a Deus com que os coríntios viviam, terá recebido olhares furiosos de S. Paulo que lá passou duas vezes, tentando convencer aquele povo a, como reza um ditado antigo, deixar de comer e beber (e etcetera) como se cada dia fosse o último da sua vida.

Foi nessas pedras com histórias de festas que nasceu uma das mais deliciosas filosofias gregas, gerada nos ditos inclementes do vagabundo Diógenes. Ele e os seus seguidores — que viviam na rua como cães (que, em grego, soa a "quiniquis") — ficaram famosos por dizer o que lhes apetecia. Com tal talento que Alexandre, o Grande, quis levar esse primeiro cínico para junto de si, prometendo-lhe a maior riqueza que pudesse nomear. À sombra do grande rei, Diógenes criou outra máxima: "Não me tires aquilo que não me podes dar. Sai da frente do sol".



Delfos, o "centro do mundo"


fotografia de Dora Mota
Durante doze séculos, até 400 anos depois de Cristo, o templo de Apolo, em Delfos foi a Meca de muitos povos e, conforme a etimologia da palavra ("barriga"), descrito como o centro do mundo. Cresceu na encosta do monte Parnaso, um capricho tectónico de imponência tal que, contam os antigos, bastava fazer as pessoas levantar os olhos para os seus altos para as embasbacar de fé em Apolo.

Foi nas entranhas de um dos templos da cidade que funcionou o Oráculo de Delfos, o mecanismo pelo qual o deus do equilíbrio e da beleza dava dicas aos mortais. Toda a história da Grécia e da sua vizinhança está marcada pelas profecias apolínias. Actualmente, séculos depois da última comunicação de Apolo, Delfos com as suas cores de terra e mármore antigo, travado pelo maior vale de oliveiras do país, dá alento a largos minutos de silêncio.


















Nenhum comentário:

Postar um comentário